[Doc2008] Abertura da ciência é debate no CESoL
Daniel R Matos
danielm em lia.ufc.br
Sexta Agosto 22 07:37:24 BRT 2008
O Congresso Estadual de Software Livre - Ceará (CESoL-CE) realizará no
dia 21/08 as 18:00 no auditório da Matemática no Centro de Ca mesa
redonda "Produção Científica: Competir ou colaborar?" com a participação
do Presidente da FUNCAP, Prof. Dr. Tarcísio Pequena, e a convidada
Profª. Drª Sely Maria de Souza (UNB).
Seguindo o debate, a Profª. Drª Sely Maria de Souza (UNB) apresentará a
palestra "Acesso aberto à literatura científica: a abordagem necessária
ao Brasil" no dia 22 de agosto as 17:00 no Auditório do Centro de
Ciências no PICI/UFC. Segue o título, resumo da palestra e
mini-curriculum.
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Título da palestra: Acesso aberto à literatura científica: a abordagem
necessária ao Brasil
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Resumo:
O propósito principal da minha fala é apresentar uma exposição sobre os
relacionamentos entre o mundo dos estudos científicos e a sociedade como
um todo, levando em conta a questão do movimento mundial em favor do
acesso aberto (open access) e as abordagens requeridas para lidar com
ela. Parece apropriado dizer que o tema acesso aberto à literatura
científica é um dos mais acalorados que têm sido debatidos pela
comunidade científica nos últimos anos. Isso devido a mudanças que têm
sido provocadas pelo movimento do acesso aberto, dado que o movimento
desafia uma das instituições mais bem estabelecidas do mundo acadêmico,
que é o periódico científico. Na verdade, não os periódicos propriamente
ditos, mas seus editores têm sido desafiados a mudar seus reais
interesses concernentes às publicações: seria esse interesse o impacto
das pesquisas disseminadas nos periódicos ou o lucro das assinaturas
deles? Estabeleceu-se, com isso, um conflito entre autores e editores,
dado que os primeiros estão altamente interessados no impacto de suas
pesquisas, enquanto os últimos, altamente beneficiados por tal impacto,
estão, de fato, interessados nos lucros dele resultantes. Sendo este, de
fato, o real interesse de editoras comerciais de periódicos científicos,
os assim chamados índices de Thomsom tornam-se uma falácia, dado que o
prestígio de um editor emerge e cresce a partir do fator de impacto de
seus periódicos. Na verdade, uma série de pesquisas tem confirmado a
tendência de que quanto mais amplo o acesso a resultados de pesquisa,
maior o impacto. O acesso amplo e irrestrito, portanto, contribui
significativamente para isso. Acesso e impacto são, desse modo,
conceitos altamente relacionados, necessitando serem discutidos
amplamente dentro da comunidade científica em particular, e da sociedade
como um todo. Emerge, desse cenário, uma questão relacionada com a
variedade de reações dos membros de comunidades científicas ao movimento
do acesso aberto. Seus pioneiros, basicamente pesquisadores das ciências
rígidas (hard sciences) e de países desenvolvidos, lutam para ter o
acesso aberto em mundialmente conhecido e adotado. Por outro lado, há um
substancial desconhecimento do assunto entre pesquisadores dos países
em desenvolvimento, notadamente das ciências sociais e das humanidades
(soft sciences), embora essa relação possa não ocorrer necessariamente
desse modo. De fato, identificam-se dois tipos de queda de braço nesse
cenário. O primeiro, entre autores empenhados no movimento em favor do
acesso aberto e editores de periódicos. O segundo, entre os mesmos
autores favoráveis ao movimento e seus colegas que desconhecem o
assunto. Desse modo, tal desconhecimento acerca do que significa o
acesso aberto é enorme em vários países, revelando que é necessário
lidar com o tema de várias maneiras, a fim de que se possa ter um
cenário mais equilibrado. Há, nesse contexto, dois modos de abordar o
tema. O primeiro é a abordagem top-down e o segundo, a bottom-up.
Entretanto, no caso brasileiro, considera-se que ambas devem ser
adotadas simultaneamente. A abordagem top down, tanto dentro da
comunidade científica quanto na sociedade como um todo, compreende o
trabalho de "investidores" do acesso aberto, incluindo executivos de
universidades, formuladores de políticas do governo e agências de
fomento à pesquisa. Isso, por sua vez, requer uma espécie de trabalho de
sensibilização, o qual deveria culminar com o conhecimento claro a
respeito do tema, assim como o cometimento a ele, por parte desses
atores. A abordagem bottom-up, por outro lado, é altamente recomendada,
especialmente dentro da comunidade científica, em seu sentido mais
amplo, isto é, incluindo pesquisadores e suas universidades, sociedades
científicas, editores, bibliotecários, agências de fomento, dentre
outros. Tal abordagem refere-se ao trabalho de ação propriamente dita, o
que requer elaboração e implementação de políticas, tanto em nível das
instituições quanto do governo. Destarte, ambas as abordagens convergem,
visto que tomadores de decisão, uma vez "evangelizados", irão,
posteriormente, prover medidas a serem levadas em conta pela comunidade
científica. A co-existência pacífica, portanto, das duas abordagens,
parece ser a melhor agenda para os dias vindouros, com um debate
saudável e profícuo dentro da sociedade.
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Mini CV
Sely Maria de Souza Costa - PhD em Ciência da Informação pela
Loughborough University, Inglaterra (1999), e mestre em Biblioteconomia
e Documentação pela Universidade de Brasília (1992). Especialista em
Análise de Sistemas pela ETUC, Brasília (1980). Bacharel em
Biblioteconomia pela Universidade de Brasília (1974). Professora Adjunta
do Departamento de Ciência da Informação da Universidade de Brasília.
Professora visitante do Departamento de Engenharia de Sistemas da
Universidade do Minho em Guimarães, Portugal. Líder dos grupos de
pesquisa sobre Publicações Eletrônicas e Metodologia de Sistemas
Flexíveis. Linhas de Ensino e Pesquisa: i) Gestão da Informação e do
Conhecimento; ii) Comunicação da Informação nos contextos organizacional
e científico. Áreas de Interesse: Epistemologia da Ciência da
Informação; Comunicação Científica e Organizacional; Gestão do
Conhecimento; Metodologia de Sistemas; Publicações Eletrônicas.
Publicações de artigos, capítulos de livros (2) e livros (3), além de
trabalhos publicados em anais de conferências nacionais e internacionais
20), palestras proferidas em eventos nacionais e internacionais.
-- Att, Roberto Parente Organização CESoL-CE http://www.cesol.ufc.br
--
Daniel R Matos
Laboratorios de Pesquisa em Ciencia da Computação - LIA
Departamento de Computação
Universidade Federal do Ceará
Campus do Pici. Bloco 910. 60.455-760
Fone/Fax: (85) 3366 9447 Ramal 214
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